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domingo, 22 de julho de 2007

III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CINEMA E AUDIOVISUAL

O grão digital: estética e técnicas da transição

Cineastas debatem possibilidades do audiovisual em diversos tipos de mídias digitais e a convivência com a tradicional película. Qualidade, custos, portabilidade, vanguardas e tradição foram temas da última mesa do seminário.

Eduardo Carvalho

Na sexta e última mesa de debates do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que aconteceu em Salvador, entre 9 e 13 de julho, Marcus Bastos cineasta e professor da PUC – SP, a cineasta canadense Martine Chartrand, o cineasta pernambucano Cláudio Assis e o professor de cinema da Metodista – SP e coordenador da Casablanca Lab, José Augusto de Blasis, sob a mediação do professor André Lemos, da UFBA, reuniram-se para debater o tema “Imagem e Mídias Digitais”.
Martine, que trabalha com animação no sistema manual, artesanal, abriu o debate com o testemunho de sua produção e reconhecendo as vantagens da aplicação da informática em seu trabalho, constatando que o trabalho artístico não foi tão impactado, porém o trabalho técnico sofreu um processo de evolução muito grande.
Marcus Bastos, a seguir, combinou duas linhas em sua apresentação: um levantamento de possibilidades do audiovisual em diversos tipos de mídias digitais, principalmente, mídias portáteis como o celular e o ipod, que, ao se tornarem mais potentes, também se tornam instrumentos da produção e difusão de audiovisual, redesenhando sua gramática clássica. Na outra vertente, o professor da PUC – SP demonstrou a relação disso com uma produção independente que emerge no cenário artístico do audiovisual, como, por exemplo, a realização de documentários interativos ou de peças produzidas em rede.
No quesito portabilidade, Marcus Bastos ressaltou que o fato de os instrumentos estarem cada vez menores e mais fáceis de serem transportados acaba impactando a linguagem audiovisual e lembrou que, já na década de 70, o cineasta francês Jean-Luc Godard desenvolvia junto à Sony projetos para tornar as câmeras cada vez mais portáteis, pois acreditava que isso modificaria significativamente o tipo de cinema que ele tinha interesse em fazer. Alertou para as perspectivas de “ciborguização” do audiovisual, ou seja, da redução destes equipamentos a níveis que poderão colocá-los em simbiose com o próprio corpo humano. Isso impacta a linguagem, ao passo em que pode deslocar o ponto de vista do olhar para qualquer outra parte do corpo, como a mão, por exemplo. Bastos ainda salientou que o impacto da portabilidade dá-se, para além das novas explorações de linguagem na produção, nos hábitos de consumo das peças audiovisuais, que são reproduzidas em telas menores e também portáteis, numa situação de dispersão em que a contemplação é substituída pela fruição.
Outro aspecto que acompanha e impacta a produção com a utilização de mídias digitais é o relacionado a custos, pois os equipamentos são mais acessíveis, as equipes são menores, a edição é mais ágil e a finalização é mais barata. Isso pode levar um realizador a executar todas as etapas do processo, mudando o cenário de produção industrial, com equipes, para produções-solo, num processo de artesanato audiovisual, na qual o artista capta, edita, monta e distribui seu trabalho. A distribuição é exatamente o terceiro aspecto de facilitação da produção e circulação de audiovisual a partir do emprego de mídias digitais. Além de uma revitalização do movimento cineclubista, surgem novas possibilidades, mais versáteis, como a de usar a própria cidade, as fachadas dos prédios e casas, como suporte para a projeção de filmes. Além é claro, de fenômenos como o YouTube e o Fiz TV (leia mais), ainda que seja apenas um cabide de arquivos de vídeo, altera de forma radical a forma como são distribuídas as produções de audiovisual. Outro universo que se descortina é o de trabalho em rede, no qual realizadores de lugares distintos podem reunir-se pela internet para compartilhar a criação de uma peça audiovisual.
A audiovisualização é outra vertente que ilustra o impacto das mídias digitais. Este termo foi cunhado por Marcus Bastos para ilustrar o fenômeno relacionado com o crescimento de capacidade de transmissão de dados via internet, com alargamento da banda, trazendo cada vez mais imagens e áudios onde antes predominavam os textos. Isso traz um irremediável alargamento das possibilidades de distribuição e disseminação das obras para além dos circuitos tradicionais do audiovisual. A tridimensionalidade também é outro aspecto relevante se considerados fenômenos emergentes como o do Second Life e os dos próprios jogos que lidam com a construção de audiovisual em ambientes de realidade virtual. Por fim, a ubiqüidade que aponta como o vídeo se espalha pela cidade, sem focos de concentração, pelo contrário, com muita dispersão, em celulares, ipods e outros. Bastos ainda apontou trabalhos vanguardistas do setor que envolvem, por exemplo, mapeamento GPS e equipamentos para monitoramento de poluição atmosférica.
Abordando o tema “O grão digital: estética e técnicas da transição”, José Augusto de Blasis começou falando sobre produção, formação profissional e empregabilidade. Neste campo, segundo ele, houve uma sensível democratização no acesso aos meios de produção de audiovisual que saíram das mãos de uma elite muito restrita que produzia cinema e televisão. Lembrou, em seguida, a frustração da expectativa de grande ampliação do mercado produtor de audiovisual quando da introdução das TVs a cabo, cujo modelo não contempla a produção nacional e enfatizou que o modelo adotado para a TV digital deverá reproduzir o mesmo erro.
Demonstrou como a captação em película, a pós-produção e a exibição ótica, processos da clássica indústria do cinema, estão em transição para modelos digitais, notadamente no processo de pós-produção, com a substituição da montagem em hardware para a montagem em software, e a conseqüente substituição do acesso linear pelo randômico. Com este novo suporte de finalização, surgi, segundo Blasis, um novo código com grandes possibilidades criativas.
A seguir, focou o mercado de exibição hegemônico americano que vive um momento de transição radical, migrando do modelo de exibição ótica para o digital de alta performance. Discorreu também sobre a diversificação dos suportes de captação, principalmente sob o aspecto de apropriação, notadamente dos miniformatos, de produtos industriais lançados originariamente para o consumidor doméstico. Um processo histórico que começou já nos anos de 1920, com o lançamento da bitola de 9,5 mm e estendeu-se até o grande sucesso que foram os vídeos com fitas de carretel da década de 80, até chegar aos minihds que, hoje, possibilitam produção audiovisual com qualidade compatível àquela que o público está disposto a consumir fora dos mercados alternativos e salas especiais, ou seja, produtos audiovisuais com qualidade para exibição comercial. Por fim, fez uma prospecção das possibilidades de finalizações com a utilização de um mix entre os diversos modelos de película e os digitais.
Por fim, o cineasta Cláudio Assis, de Amarelo Manga e Baixio das Bestas, exibido na mostra do seminário, declarou-se um apaixonado pela película e um resistente à digitalização. Reconheceu a democratização que as mídias digitais trouxe, mas atacou a banalização do uso destes equipamentos, no sentido de que, por serem baratos, geram um desperdício imenso e uma deseducação do olhar, ao passo que hoje se filmam centenas de horas para editar um filme de poucos minutos. Segundo ele, ter uma câmera, ligá-la e registrar as imagens não é necessariamente fazer cinema.

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